Publicado em: 16 de fevereiro de 2018
Por Rui Martins, do Festival Internacional de Cinema de Berlim:
Muitos cachorros de todas as raças, na abertura do 68.Festival Internacional de Cinema de Berlim. Estão reunidos na Ilha dos Cachorros, depois de retirados de seus donos e expulsos da cidade por ordem do prefeito. Essa história de perseguição aos cães, nada tem a ver com os dálmatas ameaçados por Cruela, mas é um filme de animação do diretor americano Wes Anderson, tipo fábula alegórica, ao que parece relacionado com refugiados. Um outro filme de Wes Stevenson escolhido para abrir o Festival. há dois anos, foi o Grande Hotel Budapeste.
As atrações internacionais são o novo filme de Steven Soderbergh, Unsane, anunciado como thriller ou filme de horror; Gus van Sant traz Don´t Worry, We Won´t Get Far on Foot; o francês Benoît Jacquod aparece com seu filme Eva, vivida por Isabelle Huppert; Utóia 22 de Julho, do norueguês Erik Poppe, conta o massacre de jovens noruegueses por um fanático de extrema-direita; Museu, do mexicano Afonso Ruizpalacios, conta um ousado roubo num importante Museu de Antropologia, tendo com ator principal Gael Garcia Bernal; e um documentário do veterano diretor argentino Fernando Solanas, Viaje a los Pueblos Fumigados, denuncia o excessivouso de agrotóxicos nas plantações.
Sem esquecermos o filme do diretor filipino Lav Diaz, contando os anos de chumbo da época do ditador Ferdinand Marcos, Season of the Devil. Há também a história do poeta dissidente Dovlatov, na época de Bresnev, na União Soviética, cujos livros não eram publicados, contada pelo realizador Alexey German Jr.. O filme Revolução Silenciosa, do alemão Lars Kraume, sobre a classe de estudantes secundários punida pelo governo da Alemanha Comunista, depois de terem apoiado a revolta húngara de 1956. Há mesmo um filme aparentemente religioso de Cédric Kahn, A Oração, na contracorrente dos filmes anticlericais exibidos nos últimos anos.
Filmes brasileiros em baixa
Este ano, não há nenhum filme brasileiro na competição internacional – o Brasil apenas participou da produção do filme As Herdeiras, de Marcelo Martinessi, que assinala a estréia do cinema paraguaio no Festival. Outra participação indireta é a do diretor brasileiro José Padilha, já premiado com o Urso de Ouro, que preferiu fazer cinema em Hollywood. “Fazer cinema no Brasil é um inferno”, disse ele numa recente entrevista ao jornal Folha. Ele dirige, com destaque especial mas fora de concurso (poderia ganhar outra vez o Urso?), o filme 7 Dias em Entebbe, programado a partir do domingo.
O cinema brasileiro concorre ao Urso de Ouro, na mostra de Curtas-Metragens. Ali estão Alma Bandida, de Marco Antônio Pereira; Terremoto Santo, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca; e o diretor Ricardo Alves participa com o realizador português João Salaviza, do curta Russa, filmado em Portugal.
A seleção dos longa-metragens brasileiros na Berlinale, como também é conhecido o Festival, já parece ter sido definida nos últimos anos – vão para a mostra paralela Fórum, onde como o nome indica, se prestam a debates. Ou para a mostra Panorama.
Este ano, só há uma produção brasileira no Fórum, com dupla direção de Gabraz Sanna e Anne Santos, Eu sou o Rio, cujo título foi mal traduzido para o inglês como I am the River. O tradutor não porcebeu se tratar da cidade do Rio de Janeiro e não de uma corrente de água. I am the Rio tem como personagem principal o pintor e músico de São Gonçalo, Tantão.
Na mostra Panorama há cinco filmes: Tinta Bruta, de Márcio Reolon e Felipe Matzembacher, mais quatro documentários. Um rodado por Karim Ainouz, no Aeroporto Central de Tempelhof, desativado há muitos anos e seus hangares servindo agora para acolher dois mil refugiados, vindos da Síria e do Iraque.
Os outros documentários são: Bixa Travesty, documentário de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla; Ex-Pajé, documentár
Rui Martins, está em Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.
Foto dogs do filme de Wes Stevenson e outras.