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De Um Povo Heróico, o Brado Retumbante dos Caminhoneiros


Publicado em: 31 de maio de 2018


 

 

Nós, cidadãos brasileiros, estamos sentados numa cabine de caminhão há alguns dias. Uma semana que chacoalhou a todos.  E,  neste momento, aguardamos – ativos ou não – a conclusão de uma das maiores manifestações recentes na república brasileira. O tal protesto (paralisação dos caminhoneiros) chegou devagar, em resposta à decisão do governo de aumento dos combustíveis.

 

Mas a paralisação, em todas as grandes estradas brasileiras,  rapidamente se transformou e aos poucos tomou os noticiários e as redes sociais, seja com as desculpas do governo em relação ao aumento autorizado, ou às vozes das categorias mais duramente afetadas, ou seja pelo apoio que os brasileiros deram ao movimento, como também às críticas àqueles que não a apoiam.

 

Muitos de nós começamos a perceber o quanto determinada ação, não está isolada  de várias outras que surgem aos borbotões. Sem combustível, caminhões que transportam de cabo a rabo do país, as milhares de coisas das quais precisamos diariamente, o Brasil estanca. E foi exatamente o que aconteceu e assustou e provocou as reações mais diversas – da solidariedade à causa, ao repúdio quase insano. Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

 

Caminhões parados nas garagens ou estradas não levam alimento às redes de abastecimento, nem levam remédios a hospitais e farmácias, nem os produtos químicos que são colocados na água que bebemos, nem combustível para o transporte público, etc. São milhares de necessidades cotidianas dependentes do simples fato de que elas não chegam voando ou de carroça aos grandes, médios e pequenos centros comerciais, enfim, os produtos somem das prateleiras, das bombas, dos reservatórios, e demais locais de reserva/estoque/venda nas cidades do país.

 

E agora Brasil, Brasil para onde? A poucos meses das novas eleições presidenciais, o governo enfrenta por isso uma grande, grave e séria crise. Ao expor – via fato consumado – a frágil demanda de políticas públicas levadas a sério. E a questão do combustível está diretamente relacionada à economia, cujas diretrizes estão nas mãos do governo. Em teoria. A dobradinha mercado e governo aqui chama a atenção e a Petrobras está bem no meio dela. Nesse ínterim, o povo fica de fora. Mais uma vez.

 

A teia que se forma a partir da não circulação dos caminhões (repletos de mercadorias) nas estradas do Brasil, cresce exponencialmente. Gradativamente, todos os produtos que dependem da entrega das mercadorias aos comerciantes e subsequentemente aos consumidores, é interrompida.  Portanto, bombas de gasolina esvaziam,o estoque de gás de cozinha é reduzido, prateleiras de supermercados  e demais comércios, idem. Um início de pânico se aproxima de todos, temerosos de faltar comida na mesa.

 

A lei da oferta e da procura é certeira e cruel: produtos de menos, preços sobem, daí, alguns produtos de hortifrutigranjeiros já estão com preços escandalosamente altos. Preços “normais” já são infames, em tempos de escassez são insanos. E o governo segue bradando que é o “porreta”, o dono da razão, sob a capa protetora do velho e conveniente aumento de impostos. E nós cidadãos, curvados quase ao chão, continuamos sob o peso de uma carga descarada de taxas impraticáveis e imorais de tributos em cada produto e serviço consumido.

 

Temos de entrar nas filas. Se não quisermos apoiar uma categoria em si (uma das poucas que ousou enfrentar o governo), entremos na fila dos que querem ser legitimamente governados e representados nos seus direitos, não vilipendiados na caradura. E não adianta enviar mensagem nas redes sociais de sensibilização à causa e repúdio ao governo e correr para comprar aos montes o que tem no supermercado ou estocar a pouca gasolina de quase R$6,00 sem dar a mínima para os outros.

 

Embotados por capítulos de novelas, idiotizados por realitys shows, mesmerizados por fofocas de revistas ou hipnotizados por jornalísticos pseudo-imparciais, os brasileiros começam a dar claros sinais de exaustão, graças ao bom Deus de todas as religiões.

E o penhor dessa igualdade… conseguiremos conquistar com braço forte?

 

Cristine Souza