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Eleições na América Latina 2018: Brasil diante do desafio de recompor o Estado de Direito


Publicado em: 6 de fevereiro de 2018


© AP Photo/ Wesley Santos

Em 2018 vários países da América Latina escolhem seus novos líderes: Chile, Costa Rica, Paraguai, Colômbia, México, Brasil e Venezuela. Ademais, Raúl Castro deixará seu cargo. O caso do Brasil, com todos os escândalos políticos e acusações de corrupção, para não falar do impeachment contra Dilma Rousseff, está entre os mais marcantes.

“No Brasil não há um Estado de Direito, as eleições são um momento-chave para defender um Estado que já não temos.” Essas são as palavras de Guilherme Simões Reis, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Os brasileiros enfrentarão umas eleições complexas: a arena política está longe de estar definida, de acordo com o especialista, não por falta de candidatos, mas porque não se tem a certeza que os que ganhem nas urnas possam governar.

“Antes do golpe contra Dilma Rousseff [12 de maio de 2016] as eleições decidiam realmente quem ia dirigir o país, agora já não se pode dizer isso. Não temos democracia, não sabemos se realmente quem for eleito poderá implementar suas políticas, se vai sofrer um golpe ou não”, explicou à Sputnik Mundo Simões Reis.

As eleições estão marcadas para outubro de 2018, vai ser eleito o presidente e o vice-presidente, os membros do Congresso Nacional, os governadores e vice-governadores estaduais e os integrantes das assembleias legislativas estaduais.

Quanto aos possíveis cenários, o cientista político brasileiro considera que existem apenas dois: um com Luiz Inácio Lula da Silva e outro sem ele. O ex-presidente do Brasil e líder do Partido dos Trabalhadores (PT) foi condenado a cumprir 12 anos e um mês de prisão por supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro e a defesa está fazendo o possível para evitar a prisão.De todas as formas, o partido já anunciou que Lula viria a ser o seu candidato. Todas as pesquisas de intenção de voto indicam que é ele o favorito, mesmo após a ratificação da condenação, em 24 de janeiro de 2018.

“Não há que tratar como normal que Lula não possa concorrer, por isso o PT está dizendo que não tem outro candidato além dele, igualmente, esse é o discurso correto; não poderiam adotar outro”, explicou Simões Reis.

No entanto, o cientista indicou três nomes de esquerda que poderiam vir a ser candidatos, mas nenhum pode ocupar a posição de Lula. “As pesquisas dizem que um candidato apoiado por Lula teria muito mais força, mas nunca chegaria a conseguir o mesmo que Lula como candidato, é claro que todos ficariam longe. O cenário para a esquerda é frágil se Lula não for candidato”, assegurou o cientista político.Simões Reis se refere a Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e membro do PT, Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto do Brasil, um candidato mais “popular” e com “mais força”, e Ciro Gomes, do Partido Democrático Trabalhista, ex-ministro e ex-governador do Ceará.

A oposição não tem um candidato “forte”, para além disso, diz o especialista, “está fragmentada”. No entanto, já se sabe que Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), vai competir pela cadeira presidencial. Alckmin conta com o apoio da poderosa Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), mas não é “popular”. Em outro cenário possível está Marina Silva, pré-candidata da Rede Sustentabilidade, que já disputou as últimas eleições.

Simões Reis também contou que há aqueles que querem que o Luciano Huck, apresentador de televisão brasileiro, seja candidato, mas não tem “muita força”. O que se perfila com mais apoio, mesmo que não seja “competitivo”, é o “extrema-direita” Jair Bolsonaro, deputado federal desde 1991 do Rio de Janeiro, do Partido Social Cristão.

“Bolsonaro defende a tortura e a ditadura militar; se pode dizer que é um fascista mais pró-mercado que os fascismos tradicionais. Sempre foi escolhido por militares, mas agora está fazendo campanha contra a esquerda dizendo que todos são corruptos e a classe média em grande parte o suporta; é a criminalização da política”, frisou Simões Reis.

Por sua vez, o especialista considera que podem aparecer candidatos da esfera judicial e/ou policial. Sérgio Moro, o juiz que condenou Lula à prisão, é um dos possíveis. “Realmente é muito popular entre os setores reacionários e que criminalizam a política”, explicou Reis.

Segundo o especialista, a oposição “não está preocupada com o Estado de Direito, que está danificado; não existe. O importante é atear fogo no inimigo, e o inimigo é Lula e o PT, então existe uma perseguição política muito grave”.

 Sputnik