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Futebol baiano é uma lástima


Publicado em: 2 de maio de 2018


Jolivaldo Freitas*

Se os torcedores do Bahia e do Vitória tivessem mesmo vergonha na cara só torciam para o Real Madri (calma é brincadeirinha). Mas, na realidade (sem trocadilho abobalhado) sai mais barato comprar uma camisa com o nome de Cristiano Ronaldo que a de um destes dois times. É mais em conta juntar o dinheiro que se gastaria indo para todos os jogos no Barradão, Pituaçu ou Fonte Nova, pegar uma passagem em promoção e ir ver um jogo na Espanha. Jogo de verdade. Com jogadores de verdade e não esses atletas fakes que ninguém quer e a gente aceita como se fossem Ronaldos. Kakás e Marcelos.

Daí que tenho um amigo advogado louco pelo Bahia, doutor José Rubem Marques Costa que de vez em quando me chamava para ver uma partida na Fonte Nova. Eu perguntava:

– Ver o quê doutor Rubem?

– O Bahia jogar

– Jogar ou apanhar da bola, doutor Rubem?

Nunca mais ele me chamou e recentemente, achando que eu tinha sido descortês o convidei para ir à Fonte Nova ver a apresentação do Bahia e ele me disse pelo telefone, meio cabreiro, um tanto ressabiado, quase que envergonhado:

– Meu caríssimo, faz tempo que não vejo jogo do Bahia.

– Por quê doutor Rubens?

– Nem quero falar (e olha que ele gosta de falar)

E quando eu vi meu compadre Valmir Palma Ferreira me dizer que não iria ver o último BaVi e que estava regulando sua ida ao Barradão – ele que já foi conselheiro do clube, que apoia comprando qualquer produto que o time lança, que paga antecipadamente o ano todo como sócio e ainda rala o derrière nas lajes do Barradão -, passei a achar que eu sempre tive razão quando critico o Bahia e o Vitória, não pela falta de estrutura, mas pela falta de time. Uma vez um colega jornalista me trouxe um recado, dizendo que o ex-presidente do Vitória Paulo Carneiro ia me dar porrada. Não sei se era verdade ou o Carneiro me esqueceu. De outra me disseram que ficasse quieto pois o presidente do Bahia Marcelo Guimarães era perigoso. Acredito que era fofoca e que ele nunca tinha ouvido falar em meu nome. Mas, na dúvida…

Hoje vejo e penso: o que será que acontece – com milhares de meninos jogando bola direitinho, como vejo alguns lá no baba de Amaralina, lá em Armação, na Ribeira, no Campo do Lasca no Papagaio, no Mont Serrat, lá no campinho de Cajazeiras e no campo de São Sebastião de Passé, também nos torneios em Santo Amaro da Purificação e recentemente vi um menino de uns dezesseis anos dando um baile num baba em Paripe – com os técnicos  e olheiros que não vêm? Cegam? Tem alguma jogada?

Tem mesmo de trazer os caxalebus, os currupixéis, as estrovengas, os bobós, os pernas-de-pau? Daí que começa tudo de novo, todos os anos, com Bahia e Vitória indo mais ou menos, para menos que mais, no campeonato nacional; contando pontos, somando gols para não irem parar na segundona e olha que já estiveram lá e até na Terceira Divisão e teve quem escapasse deste inferno na terra por canetada, senão estaria lá até hoje.

Minha boca não é de brasa, mas já vou avisando que é bom Bahia e Vitória irem correndo pegar os pobres coitados, os piores do que eles, os ceguetas, os desafortunados, os mal-ajambrados times do Brasileirão, para fazerem gols e juntar pontos, para não ficar no entra e sai no Z4, que nem ioiô ou vergonha de jegue. Eu pergunto: os torcedores do Bahia e do Vitória merecem isso? E ainda tem torcedor que dá tiro no outro.

*Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br