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Lula, herói do PT e vilão de si próprio, instaura a era do todos somos corruptos


Publicado em: 16 de fevereiro de 2018


Lula agora se diz vítima, mas sempre aponta terceiros. Não faz a autocrítica que desaguaria nele próprio

Levi Vasconcelos*

Frase da vez

“A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”
Epicuro, filósofo grego (341 a. C. – 271 a. C.)

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Até pouco antes de chegar ao poder o PT encarnava o discurso de paladino da moralidade. Catava indícios de corrupção nos grotões do país para levar os acusadores até a mídia. E daí fazer a festa.

Uma vez Lula lá, logo se viu, o filme era velho. Começou com Toninho do PT, então prefeito de Campinas, assassinado em setembro de 2001 com três tiros, logo a seguir em janeiro de 2002 veio Celso Daniel, prefeito de Santo André, ambos em São Paulo, sequestrado e assassinado.

Com o PT no poder esperava-se a adoção de medidas para uma apuração rigorosa para as mortes dos velhos companheiros. Qual nada. Com Toninho, o caso nunca foi esclarecido. Com Celso, três pessoas foram condenadas, mas o caso rendeu até livro mostrando uma intensa teia envolvendo esquema de corrupção. Publicamente, os petistas calaram-se. Nos bastidores, agiram para abafar o caso. A viúva de Toninho, Roseana Garcia, queixa-se muito.

Aí veio o Mensalão, a nascente da bacia que desaguou na Lava Jato. O governo do PT, ao invés de de tomar jeito, de se emendar, botar os pés no rumo, parece ter feito caminho inverso. Ampliou a escala da corrupção, ao que dizem, para cumprir ‘um projeto de poder’, que se embolou com as tentações das vantagens pessoais.

Lula agora se diz vítima, mas sempre aponta terceiros. Não faz a autocrítica que desaguaria nele próprio.

Esquerda e direita

Falcatruas à parte, convenhamos, Lula é o único governante do Brasil desde que Cabral aqui chegou, que veio da ralé. E uma vez no poder implementou políticas de esquerda.

Num item, a educação superior, por exemplo, vê-se com clareza as diferenças. O governo Fernando Henrique Cardoso, nessa máxima da direita, a de achar que o mercado tudo resolve e ao poder público cabe dar as condições infraestruturais, fez desabar sobre o Brasil uma tempestade de faculdades particulares.

Lula, ao contrário, só na Bahia, criou mais cinco universidades federais. Tínhamos uma, a UFBa. Temos seis. E os Institutos Federais de Educação pularam de dois para 32. Tivéssemos nós no Brasil um jogo político limpo, o povo estaria compelido a escolher entre as duas opções.

Lula perdeu a chance de limpar o jogo. Agora afunda na lama que ele ajudou a crescer. Que pena.

O julgamento

O julgamento no TRF-4 deixou a sensação clara de que o crime houve, mas não foi consumado. Como alguém que vai para matar outro, atira, mas não conseguiu finalizar. Ou de um bandido que vai assaltar, puxa o revolver, mas não acaba consegue o intento.

Tem imbricamentos políticos? Óbvio que sim. Os adversários se vangloriam e tiram proveito? Também é óbvio. É do jogo. Embora muitos dos que agora se vangloriam se travestem de vestais da pureza exatamente como o PT fazia antes.

Alguns nem ligam para Temer e a JBS. Ou nem disfarçam. Outros, nunca governaram. A nossa tradição está mantida na linha do governou, sujou. Ainda está para aparecer alguém que quebre a regra. Por agora, o melhor é duvidar.

*Levi Vasconcelos é Jornalista político, Diretor de Jornalismo do Bahia.ba, e titular da página de Opinião do Jornal A Tarde.