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Lula: ‘Quanto mais dias eles me prenderem, mais Lulas vão nascer’


Publicado em: 7 de abril de 2018


 

O ex-presidente disparou contra o judiciário: “Quem quiser votar com base na opinião publica, largue a toga e vá ser candidato”

Emocionado, Lula discursou aos manifestantes presentes no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo e confirmou que irá cumprir o mandado de prisão para transferir responsabilidade aos seus algozes. “Eu vou enfrentá-los no olho por olho. Quanto mais dias eles me prenderem, mais Lulas vão nascer nesse país. Se dependesse da minha vontade, não iria, mas eu vou. Eu não estou escondido e vou lá nas barbas deles, para que eles saibam que eu não tenho medo”, discursou.

Lula agradeceu a cada um dos parlamentares, sindicalistas e manifestantes que lhe deram apoio e atacou o Ministério Público Federal, o juiz Sérgio Moro e principalmente a mídia, em especial a Rede Globo. “O sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Eu fico imaginando o tesão da Veja, da Globo. Eles vão ter orgasmos múltiplos.”

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O ex-presidente lembrou do sofrimento de seus filhos e de Dona Marisa, morta no ano passado. “A   antecipação da morte foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Essa gente não deve ter filho e nem alma”, afirmou.

Ele disse não ser contra a Operação Lava Jato. “Tem que pegar bandido que roubou. Todos nós queremos isso, só prendiam pobre. E quero que continuem prendendo rico. O que você não pode fazer é julgamento subordinado à imprensa. Quem quiser votar com base na opinião publica, largue a toga e vá ser candidato.”

O ex-presidente afirmou que gostaria de fazer um debate com Moro para ele apresentar provas contra o petista. “Quero que eles provem o crime que eu cometi nesse país.” Em seguida, ele afirmou que ele era um “construtor de sonhos”, e fez um discurso semelhante ao de Martin Luther King, cujo assassinato completou 50 anos recentemente.

“Eu sonhei que era possível governar esse pais envolvendo milhões de pessoas pobres na economia, criando milhões de emprego. Eu sonhei que um metalúrgico sem diploma cuidar mais da educação que os diplomados e concursados que cuidavam desse país. Eu sonhei que era possível diminuir a mortalidade infantil com leite, feijão e arroz. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocar nas melhores universidades, para que a gente não tenha juízes e procuradores só da elite”, discursou

“Esse crime eu cometi. É por conta desse crime que tem 10 processos para mim. Se for assim, eu vou continuar sendo criminoso nesse país.”

Ele tratou Guilherme Boulos, pré-candidato à presidência pelo PSOL, como uma espécie de sucessor. “Ele está iniciando uma jornada como candidato pelo PSOL, mas é um companheiro da mais alta qualidade, que vocês têm que levar em conta a seriedade, ele tem só 35 anos de idade. Quando fiz a greve de 1978 (no Sindicato dos Metalúrgicos), tinha 33 anos de idade. Você tem futuro, meu irmão.”

Músicas de Zeca Pagodinho, Clara Nunes, e Luiz Gonzaga foram cantadas no carro de som. Durante a música do rei do Baião, o pernambucano Lula bateu no peito ao ritmo da canção sobre a seca e a saudade do Nordeste. O repertório de canções tocadas foi escolhido pelo próprio ex-presidente. “É o ‘Lula’palooza”, brincou um dos presentes ao palco.

A missa foi conduzida pelo bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino, muito próximo de Dom Paulo Evaristo Arns, que morreu em dezembro de 2016. Há 38 anos, quando Lula foi preso por uma greve sem mandado judicial, Dom Paulo, então arcebispo de São Paulo, realizou uma missa na catedral da Sé, em apoio ao então líder sindical.

O bispo lembrou que esteve no velório de Marisa, em sua missa de sétimo dia e batizou um neto e uma bisneta da ex-primeira dama. “Todos nós aqui presentes desejamos que, de coração, você realmente esteja em liberdade.”, disse a Lula. “Todos nós aqui presentes sabemos que o que aconteceu no Brasil foi um golpe. Foi de 50% quando a presidenta Dilma foi afastada do cargo, e o outros 50% quando impedem você de ser candidato, pisando no sistema democrático.” Ele brincou ainda com os manifestantes, que sugeriam para Lula não se entregar. “Agora é a hora do velhinho dar conselhos para ele.”