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Porto Alegre tem dia sem chuva, mas com frio recorde; Guaíba sobe, avança sobre ruas e tira mais pessoas de casa


- Crédito da Foto: Gilvan Rocha- Agência Brasil - Publicado em: 14 de maio de 2024


 

Lago Guaíba chegou a 5,23 metros, mas há tendência de estabilidade para os próximos dias, afirma a UFRGS. Termômetros marcaram 10°C na capital, com previsão de mais frio na semana.

Mesmo sem chuva, Porto Alegre viu o Lago Guaíba aumentar seu nível em 21 centímetros nas últimas 24 horas, alcançando 5,23 metros no final da tarde desta terça-feira (14). A capital ainda registrou seu dia mais frio no ano, com 10°C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Pela manhã, o avanço das águas provocou a evacuação de mais um bairro na Zona Sul da cidade, atingido pela alta do Guaíba – cuja cota de inundação é de 3 metros. Rios como o Caí e o Taquari – que desaguam no Guaíba – apresentaram baixa ao longo do dia. No Sul do estado, o nível da Lagoa dos Patos ainda preocupa (veja mais abaixo a situação em cada região).

Conforme o último boletim da Defesa Civil, divulgado às 18h, o estado registrava 149 mortes em razão dos temporais e cheias. São 112 pessoas desaparecidas e 806 feridas. Além disso, o RS soma 617 mil pessoas fora de casa – número maior do que a população de oito capitais brasileiras.

De acordo com a Climatempo, também não previsão de chuva para esta quarta (15), mas o frio vai continuar: em Porto Alegre a temperatura mínima será de 8°C, e a máxima de 16ºC, podendo ser registrado um novo recorde de menor temperatura do ano.

Porto Alegre: frio e Guaíba subindo

O Lago Guaíba segue alternando momentos de elevação e de estabilidade nesta terça-feira. O nível chegou a 5,23 metros durante a tarde, 14 centímetros a menos que a marca histórica (5,35 metros), registrada na última semana.

Nível do Guaíba a cada dia

Maior nível a cada dia

Metros1,311,311,611,612,312,313,693,694,84,85,275,275,355,355,335,335,315,315,25,25,025,024,814,814,644,644,654,655,155,155,235,23Nível do Guaíba (metros)29/0430/0401/0502/0503/0504/0505/0506/0507/0508/0509/0510/0511/0512/0513/0514/05123456

do Guaíba (metros): 5,27

Fonte: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)

Com isso, as águas voltaram a avançar sobre ruas em Porto Alegre. Uma das áreas atingidas foi a do bairro Lami, na Zona Sul da cidade. Logo cedo, os moradores da região precisaram deixar para trás as suas casas, com água gelada já na canela.

No total, já são mais de 14 mil pessoas em abrigos em toda a capital, e o frio deixa essa população ainda mais vulnerável.

“Está frio demais, tu sem nada nos pés porque tu está aqui, é ser humano, né, gente? Corre atrás e luta porque, se a gente não fizer alguma coisa… Não tem o que fazer, vamos embora, é o povo ajudando o povo. Então, vamos correr atrás”, conta a empresária Simone de Lorena, que ajudava vizinhos a sair de casa no Lami.

Foi no bairro Lami, que o motoboy Geovane de Oliveira, de 31 anos, atendeu ao pedido de socorro de um amigo para resgatar nove gatos e um cachorro que ficaram dentro de uma casa alagada pela cheia do Guaíba. Imagens gravadas pelo amigo mostram Geovane enfrentando ondas, formadas pela enchente no lago, para conseguir retirar os animais em segurança.

Morador enfrenta ondas da enchente do Guaíba para salvar gatos em Porto Alegre

O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) chegou a estimar que o Guaíba alcançasse 5,5 metros. Mas a atualização mais recente das projeções afastou, por enquanto, essa possibilidade.

“Os cenários de previsão indicam estabilização em nível elevado acima dos 5 metros após o repique. Indicam recessão lenta nos próximos dias ficando acima de 4 metros durante esta semana”, dizem os pesquisadores.

O professor Fernando Dornelles, do IPH, afirma que a situação do Guaíba “depende das condições [meteorológicas e de infraestrutura]: vento, chuva, se as estações [de bombeamento de água] estiverem em funcionamento”.

“São variáveis que prejudicam a modelagem”, comenta.

O corredor humanitário, construído de forma emergencial para acesso alternativo à capital, está sendo ampliado em 300 metros do outro lado da pista, na região da rodoviária da cidade. A ampliação vai permitir com que veículos de emergência circulem tanto para ingressar quanto para sair do Centro Histórico com maior facilidade. Atualmente, os dois sentidos funcionam na mesma pista.

Desde que começou a operar, na sexta-feira (10), o trecho registra tráfego médio de 100 veículos por hora. O caminho foi estruturado para agilizar o abastecimento dos serviços essenciais da cidade, como oxigênio, água, alimentos e equipamentos de emergência. O trajeto liga a área central de Porto Alegre, pelo Túnel da Conceição, à Avenida Castelo Branco e à BR-290 (Freeway).

Em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, o Sinos atingiu a marca de 6,76 metros (a maior marca dos últimos 15 dias foi de 8,09 em 4 de maio).

Foi no mesmo município que bombeiros encontraram um cavalo no terceiro andar de um prédio residencial. O animal estaria no local há 10 dias, e bombeiros tentam resgatá-lo.

A cena lembrou o caso do cavalo Caramelo, que comoveu o Brasil. O animal ficou ilhado por 4 dias em um telhado na cidade de Canoas, também devido às fortes chuvas, e foi resgatado na última quinta-feira (9). Caramelo teve quadro de desidratação e ainda precisa recuperar o peso que perdeu durante o período em que ficou ilhado.

O Rio Gravataí, também na região metropolitana de Porto Alegre, chegou a 5,83 metros na cidade batizada com o mesmo nome nesta terça-feira. O máximo registrado pelas autoridades foi de 6,23 metros em 6 de maio.

Interior do estado: Caí, Taquari e Jacuí

O monitoramento do governo do RS mostra que os rios Caí, Taquari e Jacuí, que encheram nos temporais do final de abril e no último final de semanavoltaram a recuar. Esses rios seguem do interior do RS, em localidades da Região Central e dos Vales, até desaguarem no Guaíba.

Por Gustavo Chagas, g1 RS e RBS TV