Publicado em: 21 de abril de 2018
Falta de imagens das notas fiscais não permite auditagem precisa por parte dos cidadãos. Página especial mostra os valores gastos por cada senador em categorias como passagens aéreas, aluguel de imóveis e segurança privada.
Notas fiscais que totalizam R$ 30 mil em viagens de jatinho em apenas um mês. Hospedagens em flats de luxo aos fins de semana. Refeições que ficam bem acima do valor médio pago por um almoço no Brasil – com a conta passando de R$ 1.000. Esses são alguns dos reembolsos solicitados pelos senadores em 2017. Os gastos com a cota parlamentar somam R$ 26.633.775,04.
Foram apresentadas 26.964 notas fiscais referentes a despesas no ano passado. O prazo final para o lançamento dos pedidos de reembolso foi 31 de março deste ano. As despesas são feitas não só pelos senadores, mas também por servidores lotados em seus gabinetes.
PÁGINA ESPECIAL: Veja os gastos de todos os senadores com a cota
Despesas com a cota parlamentar no Senado
Valores informados na época (sem o devido reajuste pela inflação)
Gastos em R$Total (em R$)20082009201020112012201320142015201620175M10M15M20M25M30M
Fonte: Senado Federal
Transparência
A análise do G1 foi possível porque os dados dos gastos estão disponíveis na seção de transparência e dados abertos, no site do Senado. A Casa não diz, porém, se usa alguma tecnologia para analisar e auditar os documentos. São, em média, mais de 2 mil notas fiscais por mês.
O desenvolvedor e sociólogo Eduardo Cuducos, um dos fundadores da Operação Serenata de Amor, projeto financiado por internautas que se entusiasmaram com a ideia de monitorar os gastos da cota parlamentar na Câmara dos Deputados, diz que um dos motivos de a iniciativa não ter sido ampliada para o Senado é a ausência das imagens das notas fiscais.
Ele afirma que, com o arquivo da nota fiscal, é possível verificar exatamente o que foi comprado com o dinheiro público, bem como o horário exato da emissão do documento. Assim, acrescenta Cuducos, dá para cruzar e identificar casos em que o deputado está em uma votação na mesma hora da compra do item. No Senado, isso não é possível.
“A gente é obrigado a confiar no que o senador falou. Se o senador apresenta uma nota e fala que foi refeição, a gente tem de acreditar. Se ele encheu a cara com cachaça, a gente não tem como verificar”, diz Cuducos. O que é um problema porque o Senado proíbe o uso da cota parlamentar para o pagamento de bebidas alcoólicas.
O programa de computador robô da Serenata de Amor, batizado de Rosie, costuma mencionar os deputados no Twitter e questionar os reembolsos solicitados pelos parlamentares. O projeto já tem casos de deputados que, ao perceberem o erro, devolveram o dinheiro ressarcido. Não há algo semelhante para o Senado.
O Senado afirma que “a documentação é arquivada na sua forma física, não havendo uma prévia etapa de digitalização das notas fiscais”. “O posterior desarquivamento e a digitalização de todo o material solicitado importaria excessivo ônus às atividades do mencionado serviço”, afirma o órgão.
O Senado ressalta, no entanto, que “já recusou notas fiscais por diversas razões: documento ilegível, com rasura, não original, ausência de identificação do usuário ou quando apresenta despesa cuja natureza é vedada pela norma”.
Questionado, o Senado não informa ao G1, porém, como funciona o controle interno e quais os métodos de monitoramento dos gastos pela cota parlamentar. Segundo a assessoria de imprensa da Casa, a área responsável pela cota parlamentar é o Serviço de Gestão da Secretaria de Finanças, Orçamento e Contabilidade do Senado Federal. Na unidade, trabalham oito pessoas.
O cientista de dados Leonardo Sales diz que as áreas de controle interno tanto da Câmara como do Senado costumam ser reativas, e não proativas. “Eu acho que elas sofrem interferência política e não têm muita ‘perna’ para exercer a função de controle, não têm autonomia”, afirma. Em um trabalho feito na Câmara, por exemplo, ele identificou que 20% dos deputados federais receberam doação de empresa à qual fizeram pagamento pela cota parlamentar.
Quando o senador não está no exercício do mandato, ele não pode apresentar notas fiscais para o reembolso. Da mesma forma, o suplente de senador só pode fazer o pedido de ressarcimento se a despesa foi feita durante o exercício do mandato.
Em 7 de outubro deste ano, os eleitores de cada estado e do Distrito Federal vão escolher dois nomes de candidatos ao Senado, já que dois terços da Casa será renovada. O mandato de senador é de oito anos, e os suplentes são definidos na composição da chapa eleitoral.
Segundo o Senado, para a despesa ser ressarcida, tudo precisa estar em acordo com o regimento do Senado e com os atos da Comissão Diretora. O G1 faz uma análise desses gastos e mostra quais são os senadores que mais gastaram e quais se destacam em cada tipo de uso.
Limite da cota por UF
Cada senador tem um limite de gastos, fixado de acordo com o estado pelo qual se elegeu. Dependendo do estado, o valor mensal máximo para reembolso ultrapassa R$ 44 mil por senador. No ano, esse montante pode chegar a cerca de R$ 500 mil. Esse é o limite anual para os senadores de Amazonas, Amapá e Sergipe, por exemplo.
O valor da cota é definido de acordo com o preço da tarifa aérea cobrada entre Brasília e a capital do estado pelo qual o senador foi eleito. O piso da cota parlamentar é R$ 21.045,20, valor máximo que cada senador do Distrito Federal ou de Goiás pode gastar por mês. No ano, esse montante chega a R$ 252.542,40.
Cota parlamentar
Unidade federativa | Valor máximo por mês |
Amazonas | R$ 44.276,60 |
Amapá | R$ 42.855,20 |
Sergipe | R$ 41.844,45 |
Roraima | R$ 40.724,45 |
Pará | R$ 40.426,20 |
Acre | R$ 38.854,45 |
Piauí | R$ 38.834,45 |
Ceará | R$ 38.186,60 |
Maranhão | R$ 37.396,60 |
Pernambuco | R$ 36.266,60 |
Rio Grande do Norte | R$ 35.976,20 |
Rio Grande do Sul | R$ 35.886,60 |
Paraíba | R$ 35.555,20 |
Bahia | R$ 35.416,20 |
Alagoas | R$ 35.056,20 |
Mato Grosso | R$ 34.934,45 |
Rondônia | R$ 34.615,20 |
Espírito Santo | R$ 33.176,60 |
Mato Grosso do Sul | R$ 32.905,20 |
Santa Catarina | R$ 32.871,32 |
Paraná | R$ 32.586,60 |
Rio de Janeiro | R$ 31.816,20 |
São Paulo | R$ 30.226,20 |
Minas Gerais | R$ 28.496,20 |
Tocantins | R$ 25.215,20 |
Distrito Federal | R$ 21.045,20 |
Goiás | R$ 21.045,20 |
Fonte: Senado Federal
Essa verba pode ser usada para pagar transporte, alimentação, publicidade, consultorias, aluguel de escritório no estado do senador, serviços de segurança, entre outros. O reembolso do valor ocorre até cinco dias úteis depois da apresentação da nota. O prazo para solicitar o ressarcimento é 31 de março do ano seguinte ao da emissão do documento. Isso significa que os senadores podem levar meses para pedir o reembolso.
Maiores reembolsos
A nota com o valor mais alto apresentada em 2017 é do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). O documento registra gastos de R$ 270 mil com serviços de divulgação parlamentar prestados pela empresa Start Print Comunicação Visual Eireli. O pedido de reembolso foi apresentado em dezembro de 2017.
Em nota, o chefe de gabinete do senador, Paulo Boudens, diz que o dinheiro pagou a impressão de 70 mil revistas de divulgação da atividade parlamentar. Segundo o texto, a publicação aborda todo o trabalho de Davi Alcolumbre em 2017.
“O Amapá tem cerca de 800 mil habitantes e 16 municípios. Com a publicação, aliás, já de praxe nos últimos seis anos, 10% dela [da população] terá informação mais depurada e personalizada sobre as atividades exercidas, inclusive as de interesse de cada município beneficiado”, diz o texto.
Também em dezembro os senadores Hélio José (PROS-DF) e Sérgio Petecão (PSD-AC) tiveram notas fiscais de valores altos por divulgação parlamentar. O senador do DF teve gastos de R$ 76,2 mil com a Ficxar Comunicacao Eirelli – ME. O dono da empresa, Glenio Rodrigues Tiba, é filiado ao PSDB do Distrito Federal desde agosto de 2013.
Já o senador do Acre apresentou duas notas fiscais de serviços prestados pela empresa Reis Grafica e Comercio de Etiquetas Eireli ME. Elas registram os valores de R$ 74,1 mil e R$ 68,4 mil.
Em nota, a assessoria de imprensa do senador Sérgio Petecão (PSD-AC) diz que as notas fiscais se referem à produção e à impressão de informativo para a divulgação de atividade parlamentar. Ainda segundo o texto, o material é produzido uma vez ao ano para prestar contas sobre o trabalho realizado no ano.
“Além disso, o Acre possui regiões isoladas e desconectadas, de difícil acesso, sendo a veiculação de informações, por via impressa, uma das alternativas mais eficazes para atender o objetivo de levar informação de um mandato parlamentar que pertence àquela população. Realizar este trabalho requer custo que não considero alto ou baixo, porém o necessário para a sua realização”, afirma.
A assessoria do senador Hélio José (PROS-DF) não quis se pronunciar.
Entre os senadores que exerceram o mandato em 2017, apenas dois não registraram gastos com cota parlamentar: Eunício Oliveira (MDB-CE), que ocupou a presidência da Casa, e Reguffe (sem partido-DF).
Campeões em reembolsos
Os senadores campeões em reembolsos em 2017 foram, em ordem: Davi Alcolumbre (DEM-AP), João Capiberibe (PSB-AP) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Logo em seguida aparecem Eduardo Braga (MDB-AM), Romero Jucá (MDB-RR) e Omar Aziz (PSD-AM). Os gastos anuais de cada um variaram de R$ 480.859,80 a R$ 512.645,05.
Os três senadores do Amazonas (estado que tem o maior limite) estão, portanto, no topo dos que mais pedem reembolso ao Senado com base na cota para o exercício parlamentar.
Campeões de gastos em 2017
Despesas com a cota parlamentar (em R$)
(em R$)512.645,05512.645,05510.379,47510.379,47505.244,69505.244,69491.105,83491.105,83488.693,4488.693,4480.859,8480.859,8466.253,4466.253,4452.760,54452.760,54452.760,54452.760,54435.199,2435.199,2Davi Alcolumbre (DEM-AP)João Capiberibe (PSB-AP)Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)Eduardo Braga (MDB-AM)Romero Jucá (MDB-RR)Omar Aziz (PSD-AM)Gladson Cameli (PP-AC)Paulo Rocha (PT-PA)Sérgio Petecão (PSD-AC)Humberto Costa (PT-PE)0100k200k300k400k500k600k
Fonte: Senado Federal
Passagens
Uma análise do G1 identificou ainda que a maior parte dos gastos recebeu a classificação “Passagens aéreas, aquáticas e terrestres nacionais”. Mais de R$ 6 milhões foram destinados a reembolsos com essa categoria. O valor representa 25,2% do total de despesas com a cota em 2017.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi quem mais gastou com passagens aéreas no ano. Os gastos são de R$ 279.407,16 em reembolsos em apenas um ano. Em outubro de 2017, foram R$ 51.379,00. A ponte aérea mais cara de 2017 saiu por R$ 3.274,38 para um bate e volta do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, para Brasília. As passagens aéreas representam 73,3% do total de despesas do petista com a verba indenizatória.
Em nota, a assessoria de imprensa de Lindbergh Farias (PT-RJ) diz que “não há nenhuma irregularidade”. “Os gastos obedecem aos limites da cota e referem-se a deslocamentos do senador e também de sua assessoria política para atividades referentes ao mandato”, diz o texto.
Já a assessoria de imprensa do Senado acrescenta ainda que as passagens podem ser custeadas para o “parlamentar ou a servidores comissionados e efetivos lotados em seu gabinete, em gabinete de liderança ou gabinete da Comissão Diretora, quando o parlamentar exercer concomitantemente a titularidade”.
A principal empresa fornecedora de passagens aéreas para senadores é a Ádria Viagens e Turismo. Pelo menos 29 senadores contrataram os serviços dessa empresa em 2017. José Serra (PSDB-SP), Romário (Podemos-RJ) e Paulo Rocha (PT-PA) foram os que mais tiveram despesas com a agência. Em 2017, os gastos de senadores com a Ádria Viagens e Turismo somaram R$ 1.690.843,67. É a empresa que mais foi contratada por senadores, em valores absolutos, independentemente da classificação de gastos.
Segundo a assessoria de imprensa do Senado, as empresas responsáveis pela emissão de bilhetes aéreos ou terrestres “são de livre escolha do senador”. Já os bilhetes de viagens oficiais autorizadas pelo plenário da Casa, que não contam como despesa da cota parlamentar, são emitidos “por empresa licitada pelo Senado Federal para tal fim”.
Locomoção e combustíveis
Outro gasto comum de senadores se encaixa na classificação “locomoção, hospedagem, alimentação, combustíveis e lubrificantes”. O recordista nessa categoria foi o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Partido Progressista. Em 2017, as despesas totalizaram R$ 352 mil. O valor é equivalente a 81,2% de todos os reembolsos apresentados por Nogueira no período.
Em outubro de 2017, por exemplo, Ciro Nogueira apresentou gastos de R$ 46.978,28 com essa classificação. O senador fretou três jatinhos para deslocamentos no “interior do estado”, segundo a seção de transparência do site do Senado. Somente essas viagens custaram mais de R$ 30 mil.
O presidente do PP ainda costuma pedir reembolso de gastos com combustível de aviação. Em junho de 2017, por exemplo, Ciro Nogueira apresentou uma nota referente a uma despesa com combustível, pela fornecedora Maxxi Combustíveis e Derivados Ltda ME, que totaliza R$ 12.991,97.
A assessoria de imprensa do senador não fala sobre o assunto.
Alimentação
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) também apresentou altos valores para reembolsos de gastos em refeições. Uma análise do G1 nas despesas de 2017 identificou, por exemplo, gastos de R$ 846 no Lakes Restaurante e R$ 759,20 na SB Churrascaria.
Localizado na quadra 402 da Asa Sul, em Brasília, o Lakes Restaurante também é frequentado pela senadora Lúcia Vânia (PSB-GO). A senadora gastou R$ 622,30 em 21 de março de 2017. A nota fiscal de valor mais alto, porém, foi de uma refeição no restaurante Panela Mágica, em Goiás. O reembolso à senadora foi de R$ 1.064 por conta de uma despesa em 14 de agosto de 2017. Segundo o site do restaurante, “por R$ 70 você come à vontade”.
A despesa de R$ 1.064 se refere “a um almoço com profissionais da educação em que foi discutida a realização de uma audiência pública sobre capacitação de professores”, segundo nota da assessoria de imprensa da senadora. O evento, diz o texto, foi posteriormente realizado na Comissão de Educação do Senado.
A Cota para a Atividade Parlamentar pode ser usada, segundo ato da Comissão Diretora do Senado publicado em 2014, para a alimentação “em compromisso de natureza política, funcional ou de representação parlamentar, ressalvados os de caráter eleitoral”. O artigo não deixa claro se esse benefício vale apenas para senadores ou se também é estendido para servidores do gabinete.
O Senado Federal proíbe que senadores e servidores usem a cota para a compra de bebidas alcoólicas. As notas fiscais, porém, não ficam disponíveis no site e, portanto, não é possível checar se essa regra é cumprida. O site do Senado informa apenas o nome e o CNPJ do fornecedor, bem como o valor total da nota (sem detalhamento), o dia da emissão e a classificação do gasto.
Hospedagem
Em 2017, a senadora Gleisi Hoffmann apresentou pelo menos 81 notas fiscais referentes a hospedagem de servidores do gabinete ou da própria parlamentar. Os ressarcimentos chegam a R$ 26.661,17. Vinte e dois pedidos de reembolsos foram por conta da hospedagem de servidores no Flat Petras Residence, em Curitiba.
É possível constatar, inclusive, que a data de emissão de pelo menos quatro notas caiu em fins de semana. Por exemplo, uma das notas foi emitida em 12 de março de 2017, um domingo, no valor de R$ 345. Outra tem data de 4 de julho de 2017, com total de R$ 144, também um domingo. Há ainda notas emitidas em sábados: 9 de setembro de 2017 (R$ 420) e 23 de setembro de 2017 (R$ 125).
Procurada, a assessoria de imprensa da senadora diz que “todas as despesas realizadas obedecem estritamente às exigências contidas nas normas do Senado Federal e foram devidamente auditadas por órgão responsável”. “Também atendem absolutamente às necessidades do mandato parlamentar.”
Aluguel de imóveis
Já o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi quem mais gastou com despesas da classificação “aluguel de imóveis para escritório político, compreendendo despesas concernentes a eles”. A soma de todas as despesas foi de R$ 156.564,16 em 2017. O montante equivale a 73,4% de todas as despesas do tucano com reembolsos apresentados.
Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio diz que o dinheiro é usado para “aluguel de sala, taxa de condomínio, IPTU, energia elétrica, telefonia fixa e móvel, internet e vigilância patrimonial”. A assessoria lembra ainda que Aécio Neves ficou em 70º no ranking de senadores que mais gastaram em 2017. “O gabinete do senador Aécio Neves está entre os que apresentam menores custos passíveis de ressarcimento pelo Senado”, diz trecho da ntoa enviada.
A senadora Marta Suplicy (MDB-SP) ficou próxima a alcançar a marca de Aécio Neves. Gastou R$ 156.298,26 naquele ano. O valor representa 54,3% dos reembolsos de Marta no ano.
Divulgação do mandato
O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi o líder em gastos com a classificação “divulgação da atividade parlamentar”. A liderança foi alcançada com a ajuda da nota fiscal de R$ 270 mil que, segundo a assessoria de imprensa, pagou a impressão de 70 mil exemplares de uma revista que ajuda a divulgar o mandato.
Já o senador Eduardo Braga (MDB-AM) ficou logo atrás na somatória de despesas com a classificação “divulgação da atividade parlamentar”. O total de reembolsos foi de R$ 285.256,00 – o que equivale a 58,1% de todas as notas fiscais apresentados pelo senador em 2017.
A Tinga Produções recebeu de Braga R$ 12 mil por mês, de janeiro a novembro de 2017. O senador do MDB desembolsou ainda duas vezes o montante de R$ 20 mil por serviços da Freire e Chagas LTDA-ME.
Em nota, o senador diz que usa a cota para pagar serviços da Tinga Produções desde maio de 2016, quando reassumiu o mandato. O texto afirma que a empresa faz catalogação, digitalização, produção, edição e finalização de vídeos destinados à internet e a veículos de comunicação.
“Para a realização deste trabalho são contratados profissionais, como editor, produtor de catalogação e digitalização de imagens, além de um técnico em TI para a manutenção do servidor”, completa.
Consultorias e pesquisas
Os senadores gastaram R$ 3,9 milhões com serviços da classificação “contratação de consultorias, assessorias, pesquisas, trabalhos técnicos e outros serviços de apoio ao exercício do mandato parlamentar” em 2017. Essa categoria representa 14,7% do total de valores nos pedidos de reembolso daquele ano.
O recordista foi Omar Aziz (PSD-AM). No total, foram R$ 360 mil em 12 notas de reembolsos. Em todos os meses daquele ano, o senador gastou R$ 30 mil mensais com “Jefferson L R Coronel – ME”.
Em nota, a assessoria de imprensa do senador diz que o serviço é prestado “sete dias por semana, o ano todo” e que o valor é o mesmo desde 2015. Segundo o texto, uma equipe formada por dois jornalistas, designer e um editor de vídeos fica à disposição de Omar Aziz, em Manaus, e um profissional acompanha o senador “permanentemente”. “[O serviço] inclui posicionamento estratégico, monitoramento, toda rede digital do senador e assessoria de imprensa”, afirma.
Em seguida, no ranking dos senadores que mais tiveram despesas com essa classificação, aparecem Edison Lobão (MDB-MA), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). Eles gastaram, respectivamente, os seguintes valores: R$ 272 mil, R$ 174 mil e R$ 158 mil.
A cota de Lobão foi usada, principalmente, para custear serviços da empresa “Escutec – Pesquisa de Mercado e Opinião Pública LTDA” em 2017. As despesas somaram R$ 269,7 mil no ano.
Em nota, a assessoria de imprensa do senador Edison Lobão (MDB-MA) diz que “realiza um trabalho permanente de identificação da realidade socioeconômica do Estado, para melhor orientar sua ação parlamentar em apoio aos mais necessitados”.
O texto enviado afirma ainda que a empresa contratada é a “maior e mais reconhecida” em pesquisa de mercado e opinião pública do Maranhão. O serviço prestado envolveu um “levantamento socioeconômico das mesorregiões maranhenses, com foco principal nas condições de moradia, acesso à educação, saúde básica e infraestrutura, fornecendo dados atualizados com esse objetivo”.
A empresa também foi contratada por João Alberto Souza, outro senador eleito pelo Maranhão. O parlamentar encomendou para a Escutec, por R$ 90 mil, duas vezes pesquisas qualitativas com a população do estado.
Segurança privada
O levantamento do G1 identificou ainda que poucos senadores tiveram despesas com serviços de segurança privada. Em 2017, apenas 16 pediram reembolsos dessa classificação. No total, foram R$ 473.761,23 em reembolsos por conta desse tipo de despesa. Mais da metade desses gastos foi do senador Fernando Collor (PTC-AL).
A assessoria de imprensa do senador não faz comentários sobre o assunto.
O ex-presidente e senador pediu reembolso de R$ 264.527,00 para 2017. Esse valor representa 76,8% do total de despesas de Collor com a cota para o exercício parlamentar. Desde junho de 2017, a empresa contratada pelo senador é a Avanço Service Conservação e Limpeza Eireli-ME, que recebe cerca de R$ 22 mil por mês.
Correios e material para o escritório
As despesas de senadores com a classificação “aquisição de material de consumo para uso no escritório político, inclusive aquisição ou locação de software, despesas postais, aquisição de publicações, locação de móveis e de equipamentos” representaram apenas 3,2% do total de reembolsos solicitados em 2017. Essa categoria somou despesas de R$ 860.727,86.
O senador Pedro Chaves (PRB-MS) foi o que mais gastou com isso: R$ 71.718,84 em notas fiscais. A assessoria dele afirma que os gastos são relacionados, principalmente, à locação de móveis e equipamentos de informática. “A equipe do escritório no estado [de Mato Grosso do Sul] trabalha em ambiente locado, monitorado por câmeras de segurança e, para atender à demanda da equipe de trabalho, foram locados móveis, equipamentos de informática de todo o tipo, além da aquisição de material de escritório e limpeza”, diz trecho da nota.
Outros gastos
A cota para o exercício da atividade parlamentar não engloba todos os gastos que os senadores podem apresentar. Os senadores têm direito a um imóvel funcional em Brasília ou reembolso de R$ 5.500 mensais. As viagens oficiais a países no exterior, por exemplo, são custeadas diretamente pelo Senado e não entram na cota parlamentar. A cota mensal para o uso da gráfica do Senado também não faz parte dessa verba.
Por Gabriela Caesar, G1