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Zelensky critica neutralidade de Bolsonaro na guerra com a Rússia


Publicado em: 20 de julho de 2022


‘Não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo’, disse o presidente da Ucrânia

 

Depois de falar ao telefone com o presidente Jair Bolsonaro (PL), o líder ucraniano Volodymyr Zelensky relatou alguns pontos da conversa e criticou a posição de neutralidade do chefe do Executivo na guerra com a Rússia.

“Ontem eu falei com o presidente Bolsonaro e sou grato a ele por essa conversa. Não foi a minha primeira conversa com o presidente do Brasil. Eu não apoio a posição dele de neutralidade. Eu não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo”, disse Zelensky à correspondente da Globo Raquel Krähenbühl.

O presidente ucraniano chegou a comparar o caso com a Segunda Guerra Mundial, defendendo que o posicionamento de alguns líderes permitiu o avanço do fascismo pelo território europeu.

“Vamos pensar sobre a Segunda Guerra Mundial. Foi assim. Muitos líderes ficaram neutros num primeiro momento. Isso permitiu que os fascistas engolissem metade da Europa e se expandissem mais e mais, capturando toda a Europa. Isso aconteceu por causa da neutralidade”, declarou o ucraniano, para quem a responsabilidade pelo conflito é exclusivamente da Rússia e não de seu país.

“Ninguém pode ficar no meio do caminho, ninguém pode dizer ‘vou ser um mediador’. Mediador de quê? Um mediador na guerra? Entre quem? A guerra não é entre a Ucrânia e a Rússia, é a guerra da Rússia contra o povo ucraniano. Porque, mais uma vez, eles estão no nosso território. Nós não chegaremos a um meio-termo porque um país declarou guerra contra o outro. Não. Um país capturou uma parte do nosso território há oito anos. E nessa época havia muitas pessoas que queriam ser mediadoras e permanecer neutras. Por causa disso, permitiram, desde 2014, que a Rússia fizesse essa segunda onda de invasão e eles estão invadindo outras partes. Esse é o significado de ‘neutralidade’”, afirmou Volodymyr Zelensky, contando que cobrou um posicionamento de Bolsonaro a respeito da guerra.

“Eu não apoio essa posição. Eu disse isso para o presidente: ‘Preciso de uma posição do Brasil. Eu conto com o seu povo, eu sei que tipo de pessoas estão lá, elas são maravilhosas. Eu tenho certeza de que elas apoiam os mesmos valores que nós apoiamos. Independentemente da língua que falamos. Somos um só povo’. Nós respeitamos nossos vizinhos. Aqui, meu vizinho tem filhos e eu o ajudo quando ele precisa, quando os filhos ficam doentes. Temos o mesmo sentimento. Só queremos viver e respeitar as leis e, assim, sermos respeitados. Queremos trabalhar e alimentar nossos filhos, isso nos faz humanos. Não estamos tão longe assim uns dos outros, não há diferença entre os nossos valores, só há distância em quilômetros. E, por isso, acredito que o Brasil é como qualquer outro país da América Latina”, disse ele.

Apesar de Bolsonaro ter ensaiado uma aproximação com o líder russo Vladimir Putin, segundo Zelensky, durante a conversa ao telefone, o presidente do Brasil disse que apoia a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. “Eu quero acreditar nisso. Ele me falou assim: ‘O Brasil realmente compreende a dor do que está acontecendo com vocês, mas a nossa posição é neutra’”, concluiu.