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Seu Jorge sobre ‘Marighella’: “O corpo negro é um corpo que resiste”


Publicado em: 13 de dezembro de 2021


O primeiro longa-metragem de Wagner Moura como diretor, Marighella,  exatamente 52 anos após o assassinato de Carlos Marighella pela ditadura militar Brasileira, em 1969. Interpretando o protagonista, Seu Jorge, que já conquistou o prêmio de Melhor Ator no Film Festival of India Goa, considera a estreia, após vários entrelaces com a ANCINE (Agência Nacional do Cinema) e boicotes, uma homenagem à população negra brasileira, ao ser lançado no mês da Consciência Negra.

“É uma vitória para o povo negro”, declara o artista. “Nós tentamos, vamos dizer assim, lançar no 20 de novembro, no Dia da Consciência Negra de 2019 e a gente não conseguiu estrear. Já era uma intenção, acho que do Wagner e da produção, uma coisa que havia sido pensada antes, porque a gente entendia que não tinha uma homenagem melhor a se fazer no Dia de Zumbi dos Palmares, Dia da Consciência Negra, um filme que traz total consciência do que foi essa história pelo povo brasileiro, vítima da ditadura.”

Apontado como o inimigo número 1 da ditadura militar, Carlos Marighella (1911 – 1969) articulou uma frente de resistência enquanto denunciava a tortura e censura durante o regime militar. Baiano, neto de escravos sudaneses – filho de Maria Rita, que nasceu no mês da abolição da escravidão no Brasil, em 1888 – foi professor, escritor e deputado estadual. O filme apresenta sua luta radical de combate armado como líder de um dos maiores movimentos de resistência, a Aliança Libertadora Nacional (ALN), e que batalhou contra a ditadura militar no Brasil, na década de 1960. Morreu assassinado pelos policiais do DOPS, em São Paulo.

Seu Jorge e Adriana Esteves em Marighella (Foto: Divulgação)

“A mortalidade da juventude negra brasileira continua acontecendo hoje e é uma preocupação muito séria”, conta Seu Jorge à Vogue na coletiva de imprensa realizada em São Paulo, no último 29.10. “Com isso, há muitos anos, a saúde mental do povo negro não vai nada bem por conta disso. O garoto hoje que tem 15 anos, em três anos ele faz 18, e se ele não encontrou um caminho ele está perdido. Um corpo vulnerável e extremamente alvo fácil para todos os tipos de violência que o racismo estrutural coloca para todo negro. É muito claro, o corpo negro é um corpo que resiste e a sociedade repete isso. Ter esse filme estreando neste mês é não só simbólico, mas como extremamente importante para a gente poder levantar essa conversa e discussão sempre que possível, sobretudo para questão da saúde do povo negro.”

Bruno Gagliasso e Wagner Moura (Foto: Ariel Bueno / Divulgação)

O filme que já teve passagens pelos festivais de Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo e Cairo, tem em seu elenco Bruno Gagliasso, Luiz Carlos Vasconcellos, Herson Capri, Humberto Carrão, Adriana Esteves, Bella Camero, Maria Marighella, Ana Paula Bouzas, Carla Ribas, Jorge Paz, entre outros.

“Uma coisa que eu preciso e quero combater é a mortalidade da juventude negra. O genocídio que acontece no Brasil, da juventude e da criança negra. E isso não tem exceção. Eles estão matando no ninho. Com oito anos de idade, criança morre com perdida. Essas histórias normalizaram, ninguém sente mais, ninguém tem tanta simpatia, é só mais um dado”, finaliza.